As beldades que adoravam
as máquinas de guerra americanas
Mas primeiro expliquemos o
que diacho é nose-art. Normalmente os aviões militares são identificados por
símbolos ou “cocares” – normalmente os círculos coloridos concêntricos pintados
na fuselagem. Mas no meio do “pega pra capar” da guerra aérea havia espaço pra
arte, e a chamada “nose art” consistia em fazer uma pintura no nariz da aeronave
para identificar o esquadrão ao qual pertencia, sendo isso normalmente uma
iniciativa dos próprios pilotos. Essa prática começou ainda na I Guerra Mundial,
sendo mais disseminada durante a II Guerra Mundial. Como exemplos famosos de
nose-art podemos citar o desenho do avestruz atirando com uma arma sob a frase
“Senta a Pua”, que foi ostentada nos P-47 dos pilotos brasileiros que lutaram
como voluntários no 1º Grupo de Aviação de Caça, os famosos “Jambocks”, ou os
dentes de tubarão dos P-40 dos “Tigres Voadores”. Até os sisudos alemães
adotaram Mickey Mouse como mascote em caças Bf-109 da Legião Condor durante a
Guerra Civil Espanhola.
Mas em alguns casos esses
desenhos eram individuais para cada aeronave, sendo a escolha da ilustração por
parte do piloto ou tripulação do aparelho, personalizando o avião de combate. O
destaque fica para os bombardeiros pesados americanos, principalmente os B-17 e
B-24, as chamadas “fortalezas voadoras”, que carregavam dezenas de bombas em
incursões diurnas e noturnas. Os temas das pinturas eram diversos, se inspirando
em personagens de cartuns ou tiras. Mas ao que parece, os americanos queriam
algo mais do que as várias metralhadoras Browning M2 calibre 50 espalhadas pelo
avião para se defenderem dos caças da Luftwaffe, pois a predileção dos cuecas em
combate eram as pin-ups. Quem sabe a intenção dos americanos seria distrair os
pilotos dos caças Me-109 ou Focke-Wulf que se abestalhariam ao ver as gostosas e
seriam abatidos pelas implacáveis rajadas de munição .50…
As pin-ups se tornaram mais
um dos símbolos americanos da época da Segunda Guerra, já que contribuíam para o
“esforço” nacional no conflito. Os soldados costumavam levar fotos, pôsteres e
paginas arrancadas de revista mostrando essas deusas. E as de carne e osso
costumavam aparecer no front de combate, ao lado de outros artistas, atores e
cantores, para entreter as tropas.
Mas se os soldados do
exército penduravam pôsteres ou levavam fotos delas, a força aérea do exército
preferiu pintá-las em suas aeronaves. A princípio não foi uma decisão oficial,
obviamente, mas as tripulações tinham relativa liberdade em escolher os temas
para pintar as aeronaves. E os oficiais viam nisso um estratagema para manter
elevado o moral das tropas.
No auge das pin-ups girls,
além das atrizes e modelos de carne e osso, como Betty Grable e suas belas
pernas, ou Rita Hayworth, ou personagens de quadrinhos, como a “Dragon Lady” de
Milton Cannif, quem costumava inspirar os “artistas de narizes” eram
principalmente as belas e sensuais ilustrações da revista “Esquire” de George Petty
e, principalmente, as garotas de Vargas, o peruano ilustrador cujo estilo e
impecável técnica com o aerógrafo influenciariam a publicidade nas décadas
seguintes e que trabalhou para diversas revistas, como ilustrando os calendários
da “Esquire” no início dos anos 40 e, posteriormente, trabalhando como
ilustrador da revista “Playboy”. Desses calendários para o nariz dos poderosos
aviões da Boeing que despejavam toneladas de bombas sobre a Alemanha foi um
pulo. No esforço de guerra americano, as garotas perfeitas serviram para
“levantar o moral” da tropa, uma verdadeira “arma secreta” dos States.
Mesmo utilizando arte
original ou fotos de modelos e atrizes, há o mérito daqueles que decalcavam a
imagem para o metal frio das aeronaves. Um dos mais ativos “pintores de nariz”
da II Guerra foi o mecânico Tony Starcer, do 91st Bomb Group, sediado na
Inglaterra. E entre suas mais de cem pinturas, a mais famosa é, com larga
margem, a transposição da Pin-Up de George Petty para o B-17 “Memphis Belle“, que já foi tema de dois filmes, um documentário de 1944 e uma produção de 1990. Outro colega
famoso foi o mecânico naval Hal Olsen, que serviu no Pacífico e cobrava 50
dólares por pintura, e também produziu mais de 100 obras em narizes de
bombardeiros B-29 e PB4Y-1, (designação naval para o B-24 Liberator), e boa parte desse trabalho se deu entre junho
e agosto de 1945, quando ele pintava, em média, dois aviões por dia. E sua mais
famosa não seria uma mulher, infelizmente, e sim o nome “Enola Gay” no nariz do B-29 que alijou a bomba atômica em
Hiroshima.
A nose-art e outras formas
de pintura em aeronaves ainda persiste, em aeronaves dessa época conservadas em
museus ou em reedições modernas dessa prática. Mas o politicamente correto vem
“atrapalhando” o uso de pin-ups como tema, em alguns casos, até porque a
presença de mulheres no meio militar aumentou nas últimas décadas, e ostentar
beldades em poses eróticas pode soar como ofensivo. Tanto que a RAF (Real Força
Aérea, Inglaterra) proibiu ano passado o uso desse tema na pintura de suas
aeronaves.
Segue abaixo alguns exemplos
de nose-art e as pin-ups que os inspiraram
Calendário da “Esquire”
de outubro de 1941, criação de Alberto Vargas, inspirou várias pinturas,
incluindo a “War Goddess” de um bombardeio B-24
A jovem em pose, digamos,
“aerodinâmica”,, desenhada por Vargas para o calendário de dezembro de 1943
inspirou diversas “nose-arts” em várias aeronaves, como a “Gerogia
Peach”
O nome “Memphis Belle”
foi inspirado em uma personagem da atriz Joan Blondell no filme de 1942 “Dama
por Uma Noite”, com John Wayne. A inspiração para a pintura foi o calendário da
“Esquire” de Abril de 1941, desenhado por George Petty. Deu sorte, pois o B-17
sobreviveu a 25 missões e foi tema de dois filmes.
Mais uma de Vargas, que
inspirou pinturas em bombardeiros B-25, como o “Shirley Ann”, do 340th Bomb
Group
O famoso Tony Starcer
pintou a garota com a frase “Mount´n´Ride” no nariz desse B-17 do 91th Bomb
Group inspirado no calendário de Vargas para a “Esquire” de fevereiro de
1944.
Outra nose-art famosa é
a desse B-24 intitulada “Strawberry Bitch”, que hoje se encontra restaurado no
museu da Força Aérea Americana, servindo no 512th Bomb Squadron, sediado na
África. Há uma lenda em torno dessa imagem que afirma que originalmente a mulher
estaria nua, e ao ser restaurado os pintores a teriam “vestido”. Pouco provável,
já que a jovem já aparece “vestida” na imagem que a inspirou e em fotos da
época.
Nem só bombardeios tinham
a prerrogativa de ostentar beldades pintadas em seus narizes. Mais uma “Vargas
Girl”, do calendário de fevereiro de 1941, inspirou a pintura “Naughty
Dotty” em um caça P-47 do 397th Fight
Group
Mais algumas imagens de
Vargas que inspiraram pinturas em dezenas de bombardeiros americanos
Fonte:http://www.blodega.com/index.php/2009/08/24/as-deusas-da-guerra/