quinta-feira, 11 de setembro de 2014


Livro revela o que pensavam soldados na Segunda Guerra 

Pesquisadores alemães mostram como o conflito brutalizou os oficiais nazistas, que se divertiam com mortes e violência contra mulheres de nações inimigas

Gabriela Loureiro
Soldados alemães são rendidos pelas forças britânicas
Soldados alemães rendidos pelas forças britânicas (George Silk/Life Magazine/Time & Life Pictures/Getty Images/VEJA) 
                      
Há exatamente 67 anos, as forças aliadas desembarcaram na costa da Normandia, na França, iniciando a ofensiva que levaria ao fim a II Guerra Mundial, maior conflito da história da humanidade. O dia 6 de junho de 1944, ou dia D, é um marco no início da derrocada da Alemanha nazista, cujas atrocidades são temas de inúmeros documentários, estudos e pesquisas até hoje. Um deles é o livro  "Soldados - transcrições de lutar, matar e morrer" (tradução livre de Soldaten - Protokolle vom Kämpfen, Töten und Sterben), recentemente lançado na Alemanha, com previsão de chegar às livrarias brasileiras em 2012.
 
A obra traz o ponto de vista daqueles que participaram da Segunda Guerra, mostrando sobre o que os soldados do Eixo (países liderados por Alemanha, Itália e Japão, que combatiam os aliados, liderados por Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética) conversavam entre si. Entre os principais assuntos estão ataques, tecnologia de batalha e mulheres. Para chegar a essas informações, o historiador Sönke Neitzel e o psicólogo Harald Welzer analisaram mais de 153.000 páginas de transcrições de conversas entre prisioneiros de guerra alemães, japoneses e italianos gravadas por britânicos e americanos durante o conflito.
 
O objetivo dos autores com o livro é justamente comprovar, por meio dos relatos, o senso-comum segundo o qual a guerra brutaliza os homens. Na escolha dos relatos, a preocupação dos autores era mostrar como, num contexto extremamente feroz, os envolvidos passam a considerar a violência como algo comum em seu dia a dia.
Estereótipos - No livro, são comprovados também alguns dos clichês da II Guerra, como a lenda de que os alemães eram brutais e os italianos desistiram sem lutar. Os autores estabeleceram “padrões de rendição”, que determinam como os soldados de cada nacionalidade se entregavam quando não podiam mais combater.

O ideal alemão era "jamais seja fraco". Portanto, se um soldado alemão lutou com braveza e deu tudo de si, mas não foi o bastante, ele tinha o aval da nação para se render. Já os italianos, que acreditavam que seus líderes eram corruptos, pensavam: “Por que nós deveríamos morrer por isso? Vamos desistir enquanto podemos”. No Japão, a sociedade esperava que seus soldados lutassem para vencer ou morrer, então ser preso não era uma alternativa. Por isso, quando os soldados japoneses eram capturados, sentiam-se profundamente envergonhados.
 
Essa mudança de perspectiva, que transforma o ser humano em uma máquina de matar, pode ser bem rápida, como mostra um trecho do livro em que um soldado alemão descreve um de seus ataques à Polônia. "Eu tive que soltar bombas em uma estação de trem em Poznan no segundo dia de guerra na Polônia. Oito das 16 bombas caíram na cidade, bem no meio das casas. Eu não gostei disso. No terceiro dia eu não me importava, e no quarto dia eu tinha prazer em fazer isso."
 
Nazismo - Os soldados nazistas, em particular, possuíam uma impressionante facilidade em descrever as atrocidades cometidas pelas tropas alemãs. São deles as declarações mais polêmicas e chocantes do livro, nas quais descrevem como atacavam inimigos e civis indiscriminadamente.
 
"No Cáucaso, quando um de nós era morto, não havia necessidade de qualquer superior nos dizer o que fazer. Nós só pegávamos nossas pistolas e atirávamos em tudo que estava à vista, mulheres, crianças, tudo", conta um soldado alemão chamado Kehrle em um trecho do livro.
 
Divulgação
Livro Soldados - transcrições de lutar, matar e morrer, com lançamento no Brasil previsto para 2012, expõe os diálogos entre os soldados do Eixo durante a II Guerra Mundial
Diversão - Além da
Capa do livro "Soldados"


e serem indiferentes à vida humana, alguns soldados viviam a guerra mais como uma grande aventura do que como um pesadelo. “Para os pilotos, atirar em inimigos era divertido, mas não tanto por matar pessoas e sim por derrubar o inimigo. Você pode compará-los à reação de pessoas jogando no computador, era como um esporte para eles”, disse ao site de VEJA um dos autores do livro, Sönke Neitzel.
 
Um exemplo desse deleite em matar pode ser verificado em uma passagem que descreve o diálogo entre dois pilotos alemães competindo entre si para ver qual deles havia se divertido mais em atacar civis. "Nós descíamos com a aeronave até o nível das ruas e disparávamos nos carros que passavam. Foi ótimo e era muito divertido", gaba-se o soldado Bäumer a um companheiro de cela.
 
Estupros - Um dos assuntos constantemente abordados nas conversas entre os soldados era o de qualquer outro grupo de homens no mundo: mulheres. Contudo, nos relatórios, há diálogos perversos, em que eles se gabam de terem abusado de moças de nações invadidas, tentando demonstrar sua “superioridade” aos companheiros de cela. “Se alguém contava que forçou uma relação sexual com uma mulher, a reação dos outros geralmente era rir”, diz Neitzel.
 
Holocausto - As vítimas, entretanto, raramente surgiam nas conversas, já que para eles não havia vítimas, e sim alvos. Os judeus apareciam menos ainda: em apenas 300 registros, os soldados alemães mencionaram o holocausto, apesar de cerca de 90% deles terem conhecimento de que judeus estavam sendo assassinados. “O mais interessante é que a maioria não percebia o significado do holocausto. Às vezes, os soldados mencionam aos seus companheiros que 100.000 judeus foram mortos, e eles aceitam isso”, diz Neitzel. 
 
“Os soldados apenas contam o que viram, e só. Para eles, é apenas uma guerra normal, onde crimes acontecem. Mas, não pensam sobre o caráter da guerra ou sobre o que isto significa. Eles estão mais interessados em armas, mulheres, promoções e em sobreviver.”
 
Contexto - O livro mostra que o conceito de "moralidade" não depende apenas da índole das pessoas, mas também do contexto em que elas estão inseridas. ”Eu espero que o livro abra a visão do mundo quanto à guerra, para mostrar que pessoas normais fazem coisas inacreditáveis em situações assim. Isso não ocorreu somente com soldados alemães e só enquanto durou a Segunda Guerra, acontece sempre”, diz Neitzel. “A conclusão do livro é que é preciso evitar a guerra ao máximo no âmbito da política internacional”, completa ele.
 
fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/livro-comprova-os-estereotipos-da-segunda-guerra-mundial

Soldados negros estupraram em massa mulheres alemãs, diz historiador




 
Götz Aly, um popular historiador, acusou soldados negros Aliados de estupro sistemático de mulheres alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Ele também diminui sua contribuição para a derrota dos nazistas dizendo que eles foram forçados a lutar.
 
Aly, autor do controverso livro “Hitler’s Beneficiaries”, fez seus comentários durante uma coletiva de imprensa na mostra “O Terceiro Mundo na Segunda Guerra Mundial”, que acontece em Berlim, reconhecendo o papel de milhares de africanos e asiáticos na derrota do nazismo.
 
Embora convidado a palestrar, Aly recusou o que chamou de versão “politicamente correta” da história e argumentou que, na verdade, pessoas de países colonizados tinham um “interesse paralelo” com os nazistas para derrotar as nações imperialistas como Inglaterra e França.
 
Ele comparou o comportamento de soldados negros britânicos e franceses com os notórios estupros em massa perpetrados pelos russos no leste da Alemanha e em Berlim.
 
Toda cidade do sudoeste da Alemanha pode contar histórias de estupro por soldados negros”, que “não têm nada de diferente dos russos” na forma sistemática, disse Aly.
 
Ele também descreveu os soldados negros e asiáticos britânicos e franceses como “libertadores não-livres”, cuja contribuição para derrotar Hitler, portanto, não deveria ser celebrada.
 
O estupro era prática comum durante a queda da Alemanha, mas os historiadores concordam que Exército Vermelho foi responsável pela imensa maioria dos abusos sexuais.
 
Dennis Goodwin, presidente da Associação dos Veteranos da Primeira Guerra Mundial, que também fala por outros veteranos – e ele mesmo um veterano da Birmânia durante a Segunda Guerra – disse que as declarações de Aly não fazem sentido.
 
Não há comparação com os russos, que se gabam abertamente disso. Há muitos historiadores que desafiariam essa visão. Não posso falar por franceses ou americanos, mas não havia batalhões negros britânicos na Alemanha”, ele disse.
 
Aly é uma figura respeitada mas controversa, mais conhecido pelo livro “Hitler’s Beneficiaries”, que argumenta que os nazistas compraram a lealdade do povo alemão por distribuir equitativamente os bens tomados dos judeus e dos países europeus conquistados.
 
Fonte: The Telegraph, 4 de setembro de 2009.
Sala de Guerra.